BRIGA EM SALA DE AULA – INTERVIR OU NÃO?
Qual é o limite do trabalho de um professor diante de uma situação de violência em sala de aula?
Um vídeo recentemente divulgado pelas redes sociais apresentou duas
alunas que se confrontavam verbalmente, seguido de agressão com o porte de um estilete
na clara intenção de ferir a colega de sala. Bom, os motivos que levaram a essa
atitude impensada é o que menos tem importância nesse momento. O fato
deflagrado e noticiado foi que o professor abandonou a sala deixando as duas
meninas à própria sorte, para pedir ajuda à direção. Em entrevista concedida a
imprensa, a Diretora da escola condenou a atitude do professor em deixar a sala
naquele momento, e que “como educador, deveria ter acalmado as meninas”. Nosso questionamento é simples e pontual: O
professor agiu de forma correta? Diante da situação exposta, o professor deveria
abandonar a sala ou tinha que intervir na situação? (colocando sua integridade
física em risco).
Abaixo transcrevemos um trecho do site do Conselho Tutelar de Santa
Rosa de Viterbo no interior de São Paulo (1):
Separar os alunos e discutir com a classe a situação, avaliando procedimento inadequado dos estudantes. É importante conversar com os pais para saber como está a relação destes alunos com a família. Básica é a existência de comitês, grupos associações de pais e professores. Sempre que possível, o professor deve participar deste processo pessoalmente, não transferindo toda a responsabilidade ao orientador ou diretor da escola. Afinal, é ele quem interage com o aluno diariamente.
A posição do Conselho Tutelar é clara, o professor deve interferir e
discutir com a classe intermediando a situação. Percebam que toda
responsabilidade é colocada sobre o professor, escola e pais. Em momento algum
o Conselho é citado como um órgão o qual se possa recorrer. A nós, parece então que recorrer ao Conselho
Tutelar nesta situação é perda de tempo. O professor, por sua vez deve adotar a
postura de orientador disciplinar, psicólogo, assistente social ou qualquer
outra coisa que fuja da sua função.
Consideram o professor um super herói? Que não tem medo? Que não sofre
com isso? Que seu nível de estresse está tão alto que já não importa se a água
do rio sobe ou desce o morro? As escolas
estão preparadas para esse tipo de comportamento? Os pais estão educando seus
filhos? Já citamos em outros artigos, que muitos pais deseducam só pelo fato de
oferecem facilidades aos filhos, ficando assim isentos da “encheção de saco”
que é cuidar da lição de casa, por exemplo. Preferem que os filhos fiquem
enfurnados no quarto jogando vídeo game,
ou na rua com os “colegas”. Desta forma, terceirizam para a escola, a
responsabilidade pela educação de seus filhos. Para maior entendimento sugerimos
a leitura de outras duas breves reflexões nossas sobre este assunto: Para onde
caminha a humanidade (2) e, Para onde caminha a humanidade II (3), onde
discutimos sobre a violência e suas consequências .
Em outro artigo, de setembro de 2014, no
mesmo periódico, citamos:
- Vitimizam o jovem infrator a exemplo de outros infratores,
eximindo a culpa pela má educação por parte dos responsáveis e até mesmo a
omissão dos mesmos; imputando toda responsabilidade à escola (4).
Ainda a título ilustração citamos o caso abaixo:
“Em abril de 2011, uma professora da Escola
Estadual Padre José Narciso Vieira Ehrenberg, no bairro João Aranha, em
Paulínia (120 km de São Paulo), foi agredida ao pedir que dois alunos
parassem de brigar. O caso foi registrado na Polícia Civil. Na ocasião, dois
alunos discutiam quando a profissional pediu que não houvesse agressão. O fato
ocorreu dentro da sala de aula. Ao ser questionado pela professora, um dos
jovens tentou deixar a sala, mas foi contido por ela. O jovem, então, empurrou
as carteiras e deu dois socos no rosto da professora, que caiu ao chão.” (5).
Vemos aqui claramente o que poderá ocorrer
se o profissional tentar separar uma briga entre alunos. Certo é que a lei não
nos propicia qualquer alternativa e ficamos na dúvida, pois se fizermos uma
intervenção poderemos sofrer agressões que irão variar de intensidade de acordo
com o nível de agressividade dos alunos. Se não intervimos, a lei nos cobrará por
uma suposta omissão (ainda que a minha vida seja mais importante do que a dele)
e certamente os pais, a direção da escola farão o mesmo.
Não vamos incentivar a interferência do professor nestas situações,
pois cada situação é uma situação diferente. Infelizmente cabe ao professor
decidir o que fazer neste momento, ter sangue frio e analisar rapidamente os
prós e contras, pois toda a agressividade poderá se voltar contra ele e ninguém
em sã consciência poderá pedir ao professor que se coloque, por exemplo, entre
o aluno e uma arma.
Primeiramente, acreditamos que o professor deve preservar sua
integridade física e emocional diante do acontecimento, para depois decidir o
que fazer. Gostaríamos de encerrar deixando uma citação do eminente psiquiatra
Içami Tiba:
“A impunidade deseduca; por mais amor que
haja, é preciso mostrar as consequências de seus atos. A escola nunca deveria
tomar o lugar dos pais na educação, pois os filhos são para sempre filhos, e os
alunos ficam apenas algum tempo vinculados às instituições de ensino que
frequentam” (Tiba, 2006, p. 116).
TIBA,
Içami. Disciplina, limite na medida certa.
85ª ed. São Paulo: Integrare, 2006
Omar de Camargo
Técnico Químico
Professor em Química
decamargo.omar@gmail.com
Ivan Claudio Guedes
Geógrafo e Pedagogo
ivanclaudioguedes@gmail.com
CAMARGO, O. C.; GUEDES, I.C. Briga em sala de aula - intervir ou não? Gazeta Valeparaibana [online], São José dos Campos, 01 dez. 2014. Espaço Educação. Disponível em: http://www.gazetavaleparaibana.com/085.pdf Acesso em 10 jan. 2015.
Ainda sobre a situação da violência na escola, não deixe de ver esse super debate:
Ainda sobre a situação da violência na escola, não deixe de ver esse super debate: