sábado, 10 de janeiro de 2015

BRIGA EM SALA DE AULA – INTERVIR OU NÃO?


BRIGA EM SALA DE AULA – INTERVIR OU NÃO?

Qual é o limite do trabalho de um professor diante de uma situação de violência em sala de aula?




Um vídeo recentemente divulgado pelas redes sociais apresentou duas alunas que se confrontavam verbalmente, seguido de agressão com o porte de um estilete na clara intenção de ferir a colega de sala. Bom, os motivos que levaram a essa atitude impensada é o que menos tem importância nesse momento. O fato deflagrado e noticiado foi que o professor abandonou a sala deixando as duas meninas à própria sorte, para pedir ajuda à direção. Em entrevista concedida a imprensa, a Diretora da escola condenou a atitude do professor em deixar a sala naquele momento, e que “como educador, deveria ter acalmado as meninas”.  Nosso questionamento é simples e pontual: O professor agiu de forma correta? Diante da situação exposta, o professor deveria abandonar a sala ou tinha que intervir na situação? (colocando sua integridade física em risco).

Briga em sala de aula


Abaixo transcrevemos um trecho do site do Conselho Tutelar de Santa Rosa de Viterbo no interior de São Paulo (1):

Separar os alunos e discutir com a classe a situação, avaliando procedimento inadequado dos estudantes. É importante conversar com os pais para saber como está a relação destes alunos com a família. Básica é a existência de comitês, grupos associações de pais e professores. Sempre que possível, o professor deve participar deste processo pessoalmente, não transferindo toda a responsabilidade ao orientador ou diretor da escola. Afinal, é ele quem interage com o aluno
diariamente.

A posição do Conselho Tutelar é clara, o professor deve interferir e discutir com a classe intermediando a situação. Percebam que toda responsabilidade é colocada sobre o professor, escola e pais. Em momento algum o Conselho é citado como um órgão o qual se possa recorrer.  A nós, parece então que recorrer ao Conselho Tutelar nesta situação é perda de tempo. O professor, por sua vez deve adotar a postura de orientador disciplinar, psicólogo, assistente social ou qualquer outra coisa que fuja da sua função.

Consideram o professor um super herói? Que não tem medo? Que não sofre com isso? Que seu nível de estresse está tão alto que já não importa se a água do rio sobe ou desce o morro?  As escolas estão preparadas para esse tipo de comportamento? Os pais estão educando seus filhos? Já citamos em outros artigos, que muitos pais deseducam só pelo fato de oferecem facilidades aos filhos, ficando assim isentos da “encheção de saco” que é cuidar da lição de casa, por exemplo. Preferem que os filhos fiquem enfurnados  no quarto jogando vídeo game, ou na rua com os “colegas”. Desta forma, terceirizam para a escola, a responsabilidade pela educação de seus filhos. Para maior entendimento sugerimos a leitura de outras duas breves reflexões nossas sobre este assunto: Para onde caminha a humanidade (2) e, Para onde caminha a humanidade II (3), onde discutimos sobre a violência e suas consequências .

Em outro artigo, de setembro de 2014, no mesmo periódico, citamos:
 -  Vitimizam o jovem infrator a exemplo de outros infratores, eximindo a culpa pela má educação por parte dos responsáveis e até mesmo a omissão dos mesmos; imputando toda responsabilidade à escola (4).

Ainda a título ilustração citamos o caso abaixo:

 “Em abril de 2011, uma professora da Escola Estadual Padre José Narciso Vieira Ehrenberg, no bairro João Aranha, em Paulínia (120 km de São Paulo), foi agredida ao pedir que dois alunos parassem de brigar. O caso foi registrado na Polícia Civil. Na ocasião, dois alunos discutiam quando a profissional pediu que não houvesse agressão. O fato ocorreu dentro da sala de aula. Ao ser questionado pela professora, um dos jovens tentou deixar a sala, mas foi contido por ela. O jovem, então, empurrou as carteiras e deu dois socos no rosto da professora, que caiu ao chão.” (5).

Vemos aqui claramente o que poderá ocorrer se o profissional tentar separar uma briga entre alunos. Certo é que a lei não nos propicia qualquer alternativa e ficamos na dúvida, pois se fizermos uma intervenção poderemos sofrer agressões que irão variar de intensidade de acordo com o nível de agressividade dos alunos. Se não intervimos, a lei nos cobrará por uma suposta omissão (ainda que a minha vida seja mais importante do que a dele) e certamente os pais, a direção da escola farão o mesmo.

Não vamos incentivar a interferência do professor nestas situações, pois cada situação é uma situação diferente. Infelizmente cabe ao professor decidir o que fazer neste momento, ter sangue frio e analisar rapidamente os prós e contras, pois toda a agressividade poderá se voltar contra ele e ninguém em sã consciência poderá pedir ao professor que se coloque, por exemplo, entre o aluno e uma arma.
Primeiramente, acreditamos que o professor deve preservar sua integridade física e emocional diante do acontecimento, para depois decidir o que fazer. Gostaríamos de encerrar deixando uma citação do eminente psiquiatra Içami Tiba:

“A impunidade deseduca; por mais amor que haja, é preciso mostrar as consequências de seus atos. A escola nunca deveria tomar o lugar dos pais na educação, pois os filhos são para sempre filhos, e os alunos ficam apenas algum tempo vinculados às instituições de ensino que frequentam” (Tiba, 2006, p. 116).

TIBA, Içami. Disciplina, limite na medida certa. 85ª ed. São Paulo: Integrare, 2006

Omar de Camargo
Técnico Químico
Professor em Química
decamargo.omar@gmail.com

Ivan Claudio Guedes
Geógrafo e Pedagogo

ivanclaudioguedes@gmail.com

CAMARGO, O. C.; GUEDES, I.C. Briga em sala de aula - intervir ou não? Gazeta Valeparaibana [online], São José dos Campos, 01 dez. 2014. Espaço Educação. Disponível em: http://www.gazetavaleparaibana.com/085.pdf Acesso em 10 jan. 2015. 

Ainda sobre a situação da violência na escola, não deixe de ver esse super debate: