COMPREENDENDO HABILIDADES PARA ADQUIRIR COMPETÊNCIAS:
Por uma escola que ensina a aprender e aprende a ensinar.
Nosso
artigo do mês passado, tratou do conceito de competência e como adquirir tais
competências. Neste mês vamos continuar desenvolvendo a ideia explorando o
conceito de habilidade.
A
habilidade caminha junto à competência. A competência reúne um conjunto de
habilidades, porém, as habilidades transitam entre várias competências. A
habilidade em usar as ferramentas adquiridas durante as aulas é algo como o
tirocínio (Preparação prática feita sob a
vigilância de um professor.Dic. Michaellis).
A
habilidade é adquirida junto ao professor, no decorrer do curso e durante os
exercícios e as atividades práticas, sendo assim temos um caráter indissociável
entre a competência e a habilidade. Como já descrito acima, as habilidades
adquiridas não são somente utilizadas em apenas uma competência. Uma vez
adquirida a habilidade, ela poderá se articular com outras diferentes
habilidades no conjunto de diferentes competências.
Assim
como a competência está ligada ao campo do “conhecer”, a habilidade está
intimamente ligada ao “aprender a fazer”, ou à ação, porém, para fazer é
preciso saber, ou seja, é preciso adquirir conhecimentos.
Apenas
para fins de ilustração, é possível citar a habilidade adquirida em matemática,
referente ao conhecimento sobre logaritmos, que pode ser utilizada em química,
quando se aprende sobre pH (concentração hidrogeniônica). O cálculo de uma
regra de três simples (proporção) é usado na descoberta de quantidade de mols
em uma solução, também em química.
Exemplos
de habilidades existem aos montes. Se considerarmos as competências leitora e
escritora, para que exista tal domínio, é preciso se apropriar das habilidades
de interpretar, relacionar fatos, conteúdos e conceitos, selecionar diferentes
informações para compor uma lógica narrativa, etc.
Percebam
que tudo faz sentido quando trabalhamos com o ensino por meio de competências,
pois a cada conhecimento adquirido há uma correlação com outros conhecimentos a
serem adquiridos, numa área de conhecimento diferente da anterior e essa
mobilização de áreas de conhecimento diferentes é que permite a solução de
problemas, porém isso não significa ter habilidade. A habilidade é a presteza,
agilidade com que se mobiliza e soluciona um problema e é quase uma intuição,
quase porque não se pode ficar na pendência do imponderável para a solução de
um problema, portanto é a prática, o fazer, errar e refazer e, principalmente
compreender onde errou e porque errou. Uma vez compreendido o erro há que se
percorrer todo o caminho novamente, daí então aplicando as regras ou métodos
corretos.
A
figura do professor, a partir dessa percepção, não é mais a daquele ser
onisciente cujos seguidores repetem incansavelmente regras até tê-las impressas
indelevelmente na memória. O professor passa ter uma nova imagem, uma nova
função, que não é a do mero transmissor de conhecimentos, mas sim aquele que
vai conduzir à aprendizagem a partir de critérios técnicos bem definidos em seu
planejamento e em seus planos de aula. É aquele que vai planejar atividades e
condutas específicas para que se atinjam diferentes habilidades ao longo do seu
curso.
Devido
ao caráter indissociável da habilidade e competência ambas utilizam aquilo que é
denominado por “esquemas cognitivos” ou mentais. Segundo Leon Vasconcelos: “os
esquemas mentais podem ser entendidos como representações categorizadas e,
portanto, organizadas das informações da memória sobre qualquer assunto” (http://www.comportamento.net/artigos/materias/esquemas-mentais/)
.
Os
esquemas mentais, por sua vez utilizam-se de imagens associadas, por exemplo: a
imagem de um copo nos lembra água, comida lembra prato, cinema lembra pipoca,
etc., porém vale lembrar que é importantíssimo o contexto, pois ele permite a
classificação dos blocos mentais que irão compor os esquemas.
Por
extensão, podemos associar os blocos já categorizados, a um fluxograma de um
processo industrial, onde cada operação é sequenciada e possui a descrição de
cada etapa a ser seguida para que se atinja, com perfeição, o resultado final,
ou seja, o pleno domínio das competências e habilidades.
A
título de ilustração, é possível citar a regra de três simples, conteúdo
aprendido em Matemática. Para que se chegue a essa compreensão, é necessário
saber:
a) Ler;
b) Interpretar;
c) Multiplicação e suas
regras;
d) Divisão e suas regras;
e) Proporcionalidade e suas
regras.
Todo
esse conhecimento não fará sentido se não estiver contextualizado, pois o
contexto, como vimos, é parte essencial dos esquemas cognitivos, pois ele
permite a categorização dos blocos mentais que serão utilizados na solução de
uma situação problema. Mas, convém lembrar que, é necessário criar os blocos
mentais, ou como queiram alguns, construir os blocos mentais. Juntos, professor
e aprendiz (aluno) em sinergia, para que ele(aluno) saiba como utilizá-los.
Percebe-se daí a importância da figura do professor orientador, tutor, aquele
que leva o aluno a descobrir a importância do saber fazer.
Para
Sócrates e Platão os alunos trariam algo já conhecido de vidas passadas, e que
a aprendizagem serviria para relembrar o que já era de alguma forma, conhecido.
Porém Descartes afirma que o aluno é uma tabula rasa, ou seja, nele podemos
colocar o que quisermos, dispensando assim qualquer forma metafísica. Esse
pensamento cartesiano tem sido adotado, principalmente pelas as culturas
ocidentais. A ferro e fogo tem sido assim, o conhecimento é impingido aos
alunos, os quais não possuem, ou não possuiriam mentalidade própria, bastaria
seguir seus mestres. Percebam, não há originalidade nenhuma nisso; - escola reprodutora
= alunos reprodutores dos conhecimentos de seus mestres.
Em
educação tudo tem seu valor, até mesmo os erros, pois aprende-se com eles. A
escola tradicional-reprodutora premia os alunos reprodutores, a partir do
conteúdo decorado, como se fosse possível um engessamento do pensamento e a
falta articulação entre saberes.
Há que se dar um basta no estilo “educação
bancária” (Paulo Freire, Pedagogia do
Oprimido, 1987), pois o aluno não irá adquirir habilidades se não houver análise,
reflexão e criticidade, portanto tem-se que criar, instigar a critica como
fator de curiosidade para não provocar a animosidade ou mesmo a repulsa por um
determinado conteúdo. Segundo Paulo Freire, em Pedagogia da Autonomia (1996) : “aprender criticamente é possível (...) os
educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da
reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do
processo”. É a isto que entendemos
por sinergia, cuja definição pode ser aqui dada como sendo “o efeito ativo
e retroativo do trabalho ou esforço coordenado de vários
subsistemas na realização de uma tarefa complexa ou função” (Wikipédia)
no nosso caso o aprender e ensinar onde um se reflete no outro (ação e reação).
Então, a aquisição de habilidades
(em qualquer área do conhecimento) requer um trabalho sinergético entre
professor e aluno, não pode o professor enclausurar-se numa redoma de cristal
instransponível e autodenominando-se senhor do conhecimento a quem todo poder é
dado para decidir se o aluno pode ou não aprender. Por fim, ainda segundo Paulo
Freire: “Só, na verdade, quem pensa
certo, mesmo que, às vezes, pense errado, é quem pode ensinar a pensar certo”. Tampouco
pode o aluno estar refratário às novas aquisições de conhecimento, pois
trata-se de uma via de mão dupla – aprender/ensinar e ensinar/aprender.
Omar de
Camargo
Técnico
Químico
Professor em
Química
decamargo.omar@gmail.com
Ivan Claudio
Guedes
Geógrafo e
Pedagogo
ivanclaudioguedes@gmail.com
CAMARGO, O.; GUEDES, I.C. Compreendendo habilidades para adquirir competências. Gazeta Valeparaibana [Online] São José dos Campos, 01 jul. 2015. País Educador - Professores. Disponível em http://gazetavaleparaibana.com/092.pdf Acesso em 27 jul. 2015.