segunda-feira, 27 de julho de 2015

COMPREENDENDO HABILIDADES PARA ADQUIRIR COMPETÊNCIAS:

COMPREENDENDO HABILIDADES PARA ADQUIRIR COMPETÊNCIAS:

Por uma escola que ensina a aprender e aprende a ensinar.



Nosso artigo do mês passado, tratou do conceito de competência e como adquirir tais competências. Neste mês vamos continuar desenvolvendo a ideia explorando o conceito de habilidade.
A habilidade caminha junto à competência. A competência reúne um conjunto de habilidades, porém, as habilidades transitam entre várias competências. A habilidade em usar as ferramentas adquiridas durante as aulas é algo como o tirocínio (Preparação prática feita sob a vigilância de um professor.Dic. Michaellis).
A habilidade é adquirida junto ao professor, no decorrer do curso e durante os exercícios e as atividades práticas, sendo assim temos um caráter indissociável entre a competência e a habilidade. Como já descrito acima, as habilidades adquiridas não são somente utilizadas em apenas uma competência. Uma vez adquirida a habilidade, ela poderá se articular com outras diferentes habilidades no conjunto de diferentes competências.
Assim como a competência está ligada ao campo do “conhecer”, a habilidade está intimamente ligada ao “aprender a fazer”, ou à ação, porém, para fazer é preciso saber, ou seja, é preciso adquirir conhecimentos.
Apenas para fins de ilustração, é possível citar a habilidade adquirida em matemática, referente ao conhecimento sobre logaritmos, que pode ser utilizada em química, quando se aprende sobre pH (concentração hidrogeniônica). O cálculo de uma regra de três simples (proporção) é usado na descoberta de quantidade de mols em uma solução, também em química.
Exemplos de habilidades existem aos montes. Se considerarmos as competências leitora e escritora, para que exista tal domínio, é preciso se apropriar das habilidades de interpretar, relacionar fatos, conteúdos e conceitos, selecionar diferentes informações para compor uma lógica narrativa, etc.
Percebam que tudo faz sentido quando trabalhamos com o ensino por meio de competências, pois a cada conhecimento adquirido há uma correlação com outros conhecimentos a serem adquiridos, numa área de conhecimento diferente da anterior e essa mobilização de áreas de conhecimento diferentes é que permite a solução de problemas, porém isso não significa ter habilidade. A habilidade é a presteza, agilidade com que se mobiliza e soluciona um problema e é quase uma intuição, quase porque não se pode ficar na pendência do imponderável para a solução de um problema, portanto é a prática, o fazer, errar e refazer e, principalmente compreender onde errou e porque errou. Uma vez compreendido o erro há que se percorrer todo o caminho novamente, daí então aplicando as regras ou métodos corretos.
A figura do professor, a partir dessa percepção, não é mais a daquele ser onisciente cujos seguidores repetem incansavelmente regras até tê-las impressas indelevelmente na memória. O professor passa ter uma nova imagem, uma nova função, que não é a do mero transmissor de conhecimentos, mas sim aquele que vai conduzir à aprendizagem a partir de critérios técnicos bem definidos em seu planejamento e em seus planos de aula. É aquele que vai planejar atividades e condutas específicas para que se atinjam diferentes habilidades ao longo do seu curso.
Devido ao caráter indissociável da habilidade e competência ambas utilizam aquilo que é denominado por “esquemas cognitivos” ou mentais. Segundo Leon Vasconcelos: “os esquemas mentais podem ser entendidos como representações categorizadas e, portanto, organizadas das informações da memória sobre qualquer assunto” (http://www.comportamento.net/artigos/materias/esquemas-mentais/) .
Os esquemas mentais, por sua vez utilizam-se de imagens associadas, por exemplo: a imagem de um copo nos lembra água, comida lembra prato, cinema lembra pipoca, etc., porém vale lembrar que é importantíssimo o contexto, pois ele permite a classificação dos blocos mentais que irão compor os esquemas.  
Por extensão, podemos associar os blocos já categorizados, a um fluxograma de um processo industrial, onde cada operação é sequenciada e possui a descrição de cada etapa a ser seguida para que se atinja, com perfeição, o resultado final, ou seja, o pleno domínio das competências e habilidades.
A título de ilustração, é possível citar a regra de três simples, conteúdo aprendido em Matemática. Para que se chegue a essa compreensão, é necessário saber:
a) Ler;
b) Interpretar;
c) Multiplicação e suas regras;
d) Divisão e suas regras;
e) Proporcionalidade e suas regras.
Todo esse conhecimento não fará sentido se não estiver contextualizado, pois o contexto, como vimos, é parte essencial dos esquemas cognitivos, pois ele permite a categorização dos blocos mentais que serão utilizados na solução de uma situação problema. Mas, convém lembrar que, é necessário criar os blocos mentais, ou como queiram alguns, construir os blocos mentais. Juntos, professor e  aprendiz (aluno) em sinergia,  para que ele(aluno) saiba como utilizá-los. Percebe-se daí a importância da figura do professor orientador, tutor, aquele que leva o aluno a descobrir a importância do saber fazer.
Para Sócrates e Platão os alunos trariam algo já conhecido de vidas passadas, e que a aprendizagem serviria para relembrar o que já era de alguma forma, conhecido. Porém Descartes afirma que o aluno é uma tabula rasa, ou seja, nele podemos colocar o que quisermos, dispensando assim qualquer forma metafísica. Esse pensamento cartesiano tem sido adotado, principalmente pelas as culturas ocidentais. A ferro e fogo tem sido assim, o conhecimento é impingido aos alunos, os quais não possuem, ou não possuiriam mentalidade própria, bastaria seguir seus mestres. Percebam, não há originalidade nenhuma nisso; - escola reprodutora = alunos reprodutores dos conhecimentos de seus mestres.
Em educação tudo tem seu valor, até mesmo os erros, pois aprende-se com eles. A escola tradicional-reprodutora premia os alunos reprodutores, a partir do conteúdo decorado, como se fosse possível um engessamento do pensamento e a falta articulação entre saberes.
Há que se dar um basta no estilo “educação bancária” (Paulo Freire, Pedagogia do Oprimido, 1987), pois o aluno não irá adquirir habilidades se não houver análise, reflexão e criticidade, portanto tem-se que criar, instigar a critica como fator de curiosidade para não provocar a animosidade ou mesmo a repulsa por um determinado conteúdo. Segundo Paulo Freire, em Pedagogia da Autonomia (1996) : “aprender criticamente é possível (...) os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo”.  É a isto que entendemos por sinergia, cuja definição pode ser aqui dada como sendo “o efeito ativo e retroativo do trabalho ou esforço coordenado de vários subsistemas na realização de uma tarefa complexa ou função (Wikipédia) no nosso caso o aprender e ensinar onde um se reflete no outro (ação e reação).

Então, a aquisição de habilidades (em qualquer área do conhecimento) requer um trabalho sinergético entre professor e aluno, não pode o professor enclausurar-se numa redoma de cristal instransponível e autodenominando-se senhor do conhecimento a quem todo poder é dado para decidir se o aluno pode ou não aprender. Por fim, ainda segundo Paulo Freire: “Só, na verdade, quem pensa certo, mesmo que, às vezes, pense errado, é quem pode ensinar a pensar certo”. Tampouco pode o aluno estar refratário às novas aquisições de conhecimento, pois trata-se de uma via de mão dupla – aprender/ensinar e ensinar/aprender.

Omar de Camargo
Técnico Químico
Professor em Química
decamargo.omar@gmail.com

Ivan Claudio Guedes
Geógrafo e Pedagogo
ivanclaudioguedes@gmail.com

CAMARGO, O.; GUEDES, I.C. Compreendendo habilidades para adquirir competências. Gazeta Valeparaibana [Online] São José dos Campos, 01 jul. 2015. País Educador - Professores. Disponível em http://gazetavaleparaibana.com/092.pdf Acesso em 27 jul. 2015. 



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