segunda-feira, 16 de junho de 2014

Após gastar R$ 3,2 mi, governo vai inaugurar biblioteca sem livros

Prestação de contas já cita ‘ganhos culturais’ mesmo com o local ainda fechado para o público

Gazeta de Alagoas - Milena Andrande

http://gazetaweb.globo.com/noticia.php?c=370986&e=2


Ornamento. Adorno. Enfeite. São muitas as definições para algo que tenha evidente beleza, mas, nem sempre, uma utilidade prática. Após quatro anos de reforma e R$ 3,2 milhões gastos, é assim que pode ser qualificada a nova Biblioteca Pública Estadual – um prédio lindo e novo, mas vazio e sem ter o que oferecer à população do estado com maior índice de analfabetismo e piores indicadores educacionais do Brasil.

Entre os anos de 2008 e 2009, a Secretaria Estadual de Cultura (Secult) firmou dois convênios com a Fundação Biblioteca Nacional (FBN), órgão ligado ao Ministério da Cultura. Um no valor global de R$ 2,1 milhões e outro de R$ 1,1 milhão. Os objetos eram a restauração do Palacete Barão de Jaraguá e a modernização da Biblioteca Pública Estadual.

Da União, o Estado recebeu R$ 2,4 milhões que deveriam ter sido aplicados para tornar a biblioteca ‘uma instituição multicultural, segundo os preceitos do programa Mais Cultura, no sentido de apoiar e dinamizar as ações desenvolvidas por bibliotecas públicas de grande porte configurando-as como centros culturais que facilitem o acesso da população à informação e ao conhecimento’. Assim está definido o contrato de repasse.

No último dia 13 de maio, o portal dos convênios do governo federal, o Siconv, disponibilizou o resultado de quase quatro anos de execução dos dois contratos e o que figura na prestação de contas encaminhada pela Secult é surpreendente. Uma ampla lista de metas e etapas não cumpridas. Basicamente, o que há de quase 100% concluída é a reforma do prédio centenário, que, hoje, está bem fechado a cadeado e sem previsão de abrir suas portas recém-restauradas.

Aos leitores ansiosos, um aviso: não há acervo novo, e mesmo que houvesse não teria como levar o livro para casa, pois os dados não foram informatizados, o que impossibilita o controle de entrada e saída das publicações. Dos cerca de R$ 400 mil disponibilizados para a compra de livros infantis, para bebês, publicações de cunho técnico, revistas, romances e literatura em geral só foram utilizados cerca de R$ 70 mil – segundo uma fonte da secretaria –, e, ainda assim, na aquisição de publicações acadêmicas da Editora da Universidade Federal de Alagoas (Edufal).

A Biblioteca Pública Estadual Graciliano Ramos nascerá sem livros em suas novas e reluzentes prateleiras, como mostra reportagem de TV veiculada no site oficial do governo do último dia 10 de junho. As imagens são bem claras, o prédio está pronto, mas é o vazio de livros que impera nas instalações milionárias da instituição.


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