quarta-feira, 11 de junho de 2014

PEDAGOGIA DA ESMOLA


PEDAGOGIA DA ESMOLA

Vivemos em uma época de esmolas. Gostamos de ganhar “coisas”. Ganhar bolsas, ganhar brindes, ganhar bugigangas. Nossas crianças não são diferentes. Gostam de ganhar notas, ganhar material escolar, ganhar tempo a mais de intervalo. Os políticos, por sua vez, gostam de ganhar votos e claro, muito dinheiro.

Acontece que vivemos em um sistema em que o governo não assume seu papel de Estado de Bem Estar Social, nem seu papel de governo Neoliberal. Ficamos sobre o muro.
pedagogia da esmola

Ao mesmo tempo em que o Estado cria leis em que chama para si a responsabilidade social, na prática ele próprio negligencia essas leis.

Como bem sabemos a esmola não desenvolve e não devolve a autoestima. Na verdade, a esmola mantém quem a recebe sempre no mesmo patamar de pobreza.

Existem também aqueles que recebem esmolas, mas na verdade não precisam delas, apenas usufruem de uma facilidade ou do espírito de caridade que temos inerente em nós. Seja de que forma for, a esmola não promove inclusão alguma, pelo contrário nos mantém distantes dos mais pobres que nós.

A “Pedagogia da esmola” assim denominada por nós, é aquela desenvolvida ao longo dos anos pelos go-vernos, e acatada pelos professores, quer sejam nas redes estadual ou federal, em que tudo é oferecido aos alunos, ou professores, de maneira a mantê-los sob a custódia do estado sob a falsa ideia de que estamos felizes. 

Obviamente, se a multidão de esfomeados físicos e culturais virem, de alguma maneira, suas necessidades básicas sendo atendidas estarão contentes e isso significa menos problemas. 

O sistema assistencialista aplicado nos últimos anos (Bolsa Família, gás, leite, material escolar, uniforme, alimentação, Cotas...), tem servido para anestesiar grande parte da sociedade quanto aos problemas políticos e sociais que estamos vivenciando.

O sistema de progressão continuada (leia-se promoção automática) aliado a política assistencialista tem servido para camuflar os verdadeiros problemas que vão estourar nas próximas gerações (em um futuro não tão distante, pois seus reflexos já são possíveis perceber). 

As crianças já não ligam para suas responsabilidades, pois têm quem os dê “coisas”. 

Os pais, por sua vez já não fazem valer seu pátrio poder. Educam as crianças de maneira atabalhoada e terceirizam a responsabilidade ao Estado e aos professores. 

Os professores sentem-se impotentes, seja pela fraca formação inicial, ou pela complexidade de ações que influenciam na prática docente. As famílias que, por força das condicionalidades do bolsa família, mantêm seus filhos na escola, mas nada fazem para que eles, efetivamente, aproveitem seus estudos. São tão responsáveis tanto quanto aqueles que querem manter sob o jugo eleitoral essas mesmas famílias, pois elas não querem perder as benesses dadas. 

Portanto continuam colaborando, nesse caso votando, com a manutenção do sistema.
As diversas bolsas mantidas pelos governos, quer seja estadual ou federal é sim um processo eficiente para atingir o objetivo comum a eles – manterem-se no poder. 

É um processo pedagógico no sentido de aplicar as teorias de subjugo do povo. De um lado dá-se dinheiro ou outra quinquilharia qualquer e por outro lado eles são mantidos no comando. Simples teoria do toma lá da cá. Se retirarmos da noite para dia todas as bolsas, as famílias voltam a ser pobres como eram antes, sem oportunidades como antes. 

Isso é promover o bem estar social?
De quem?

Na escola, o sistema de meritocracia não é aplicado aos alunos. O que temos é um falso sistema de meritocracia aplicado aos professores. A contratação via concurso (de baixa qualidade) cria a falsa expectativa no professor de que ele é merecedor daquele cargo. 

Sobre os concursos de baixa qualidade é importante dizer que, mesmo sendo de baixa qualidade ainda há um grande número de formados em licenciaturas que não conseguem a pontuação mínima para assumirem tal cargo (o que denota a péssima formação que estão tendo nas faculdades).

Sobre o sistema de esmola-docente, podemos explorar um pouco o chamado “bônus-docente”. O bônus que é dado aos docentes cuja escola  atingiu os índices esperados pelo sistema de ensino.

No caso das escolas públicas do Estado de São Paulo temos o bônus calculado sobre o IDESP (Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo) – uma cópia mal feita do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – promovido pelo Governo Federal). 

Pois bem, o IDESP é calculado a partir de dois índices: Desempenho X Fluxo. Entende-se por desempenho a nota do SARESP (considerado somente para as turmas de 5º ano, 9ºano e 3º ano do ensino médio) e o fluxo em que se leva em consideração a quantidade de alunos reprovados e evasão escolar. 

 Pois bem, sabendo-se que os alunos não vão tão bem no quesito avaliação, o que a escola faz para elevar o índice? Aprova-se à revelia.

Dentro dessa concepção, verifica-se aqui, também, um sistema de esmola. Em que os professores são coagi-dos a aceitarem o que é imposto pelo sistema de ensino para não perderem o famigerado bônus-docente.

Ninguém, com o mínimo de capacidade intelectual e física, precisa de bolsas ou outras medidas assistencialistas. O que precisamos é de geração de empregos, valorização do mérito e dos estudos e de salários dignos. 

O grande problema é que a maioria das pessoas não tem esse mínimo de senso para contestar o modelo da Pedagogia da Esmola que se instalou neste país.

Por fim, o que vemos nesse sistema assistencialista generalizado que estamos vivendo é o modelo de “Cenoura de mula”, em que se pendura à frente do animal para que ele ande sem parar e nunca alcance. Assim estamos nós sociedade, correndo atrás da nossa “esmola” e reelegendo aqueles que tem o controle da “cenoura”. 

Autores: Omar de Camargo e Ivan Claudio guedes
Artigo publicado originalmen te em http:// www.gazetavaleparaibana.com/052.pdf em março 2012

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