PELA CONSTRUÇÃO DE UMA ESCOLA COMPETENTE QUE ENSINA E APRENDE
Historicamente, nosso sistema
de ensino tem sido “conteudista”, ou seja, sempre primou pela transmissão de
conhecimentos e privilegiou quem tivesse maior poder de memorização de conteúdo.
Os exames aplicados e os resultados finais, sempre foram em detrimento do
esforço de “decorar o conteúdo” (cf. LUCKESI, 2011), no melhor estilo da
“Educação Bancária” (cf. FREIRE, 2011).
Muito bem, uma criança ou
adolescente que se “dá bem” na escola é aquela que consegue responder a
questionários referente à uma determinada disciplina, ou que consegue usar uma
determinada fórmula matemática ou ainda sabe fazer uma reação química ordenando
corretamente seus coeficientes. Mas, nosso questionamento é: - Numa situação
diferente, inédita, como esse jovem iria se sair? Diante de uma
situação-problema em que fosse preciso articular diferentes conhecimentos de
diferentes disciplinas, ele saberia ordenar seus conhecimentos na condução da
resolução da proposta até então desconhecida? Difícil dizer, mas alguns diriam:
- é preciso ter competência. Exatamente! competência é a palavra chave que pode
mudar todo o contexto da situação. Não nos parece viável a diminuição dos
conteúdos disciplinares ou supressão de determinadas matérias, na tentativa de,
com isso, o aluno dedicar-se mais aos estudos. A proposta de reorganização do Ensino Médio e a cogitação de juntar diferentes disciplinas com o intuito de
criar “um currículo mais atrativo para o ensino médio”, não nos parece viável. Os
conteúdos são necessários e o seu aprofundamento tem que ser em função da
competência adquirida durante as aulas.
Partindo de uma definição de
competência que é a capacidade de manipular os conhecimentos adquiridos, de
movimentá-los de maneira ordenada a fim de obter o sucesso na resolução de uma
situação problema (cf. PERRENOUD, 1999), podemos então promover uma análise
daquilo que estamos fazendo dentro da sala de aula. Uma autocrítica sobre nossa
maneira de ensinarmos é necessária, pois somente fazendo esse exercício mental
e, aqui vai uma dica, deixarmos o orgulho de lado, para podermos realmente ver
o que somos no momento, talvez mero transmissor de conhecimentos, é que poderemos
de alguma maneira, mudarmos nosso comportamento e atingirmos o aluno de maneira
mais eficaz.
Será que provemos o aluno de
ferramentas para que ele desenvolva a competência? Aliás, como desenvolver a
competência em determinadas disciplinas, considerando a formação tradicional do
professor especialista de Ensino Fundamental II e Ensino Médio? Saber transitar
entre diversos conteúdos na busca de uma solução não é algo simples. Articular
conteúdos específicos de uma área de conhecimento (Geografia, História,
Química, Matemática, por exemplo) com os saberes da Pedagogia, não é tarefa
fácil. Desenvolver as competências profissionais de um professor, não é tarefa
fácil.
Um médico, por exemplo,
precisa buscar nos conhecimentos adquiridos durante seu curso de medicina, ou
de especialização ou até mesmo em outras publicações ou outros espaços de
aprendizagem, para fazer um diagnóstico adequado. Quantas vezes esse mesmo
médico não tem que olhar em seus livros na busca de compreender o que está
acontecendo com seus pacientes. Com o passar do tempo de tanto utilizar essas
ferramentas ele se torna um médico competente, ou seja, adquiriu competência
naquilo que ele faz. Então competência não é algo que se compra num “fastfood”, não se encontra na prateleira
e nem sequer está pronta para uso. Competência se desenvolve! É um laboratório
de sucessivas tentativas, erros e acertos. Mas, como? Praticando, exercitando o cérebro. Daí a
importância de se fazer exercícios, de usar ferramentas adquiridas através do
conhecimento transmitido pelo professor. Isso ocorre não só em exatas, mas nas
disciplinas ditas humanas.
Temos que entender que não
mais podemos nos isolar em nosso casulo profissional, onde quem ensina
matemática não se preocupa com a linguagem, quem ensina química acha que o
aluno sabe matemática, e assim por diante. O ensino de maneira integral, ou
seja, onde todas as disciplinas formam um todo coerente irá facilitar o
trânsito entre elas que citamos anteriormente e promover o desenvolvimento da
competência no alunato.
Dessa maneira, cabe ao
professor o papel, não mais de mero transmissor de conhecimentos, mas de tutor,
de guia, sem imposição, apontando o caminho a seguir, mas primando pela
liberdade intelectual do seu aluno, pois na verdade existem muitos caminhos.
Cabe ao professor fazer com que o aluno se sinta capaz e perder o medo de errar,
pois somente errando é que se aprende. Evidentemente o professor tem que estar
apto a entender que, na solução de um problema poderá haver mais do que um
caminho, e que um raciocínio desenvolvido pelo aluno poderá estar certo. Veja
bem, não precisa ser exatamente o mesmo raciocínio desenvolvido pelo professor,
claro que o raciocínio deverá ser coerente e estar consoante com os
conhecimentos normalmente aceitos. Competência se desenvolve com o tempo,
através do uso inteligente e insistente dos conhecimentos adquiridos.
É preciso dizer que não basta
o professor transmitir os conhecimentos, é necessário o aluno dedicar-se, não
basta ser aluno é necessário ser estudante (aquele que estuda). A aula precisa
ser dialógica. É preciso fazer o movimento de mão dupla. A prática, nesse
contexto, leva à perfeição, ou seja, adquire-se competência.
A escola conteudista ou
transmissora, em que o aluno é um depósito de conteúdos, não o prepara para
enfrentamentos inéditos, pois se preocupa somente com a memorização dos saberes.
Já o ensino através do desenvolvimento de competências, visa sanar essa
deficiência dando aplicabilidade prática ao conhecimento adquirido.
O desenvolvimento de
competências vem inicialmente do mundo do trabalho, onde pessoas se tornavam
competentes pela prática incessante de uma determinada ação determinada por um
conhecimento anteriormente adquirido. E na escola? Como definir competência? No
âmbito escolar, como dissemos anteriormente é não só a apropriação dos saberes,
mas como usar, como inter-relacionar conhecimentos, comportamentos atitudinais,
procedimentais e conceituais na solução de problemas do dia a dia (cf. ZABALLA,
1998).
Como podemos perceber, não é
possível dissociar a competência do conhecimento. Portanto é necessário a
aquisição dos saberes e a utilização inter-relacionada desses saberes
Nesse mesmo caminho temos a
habilidade que caminha junto. A habilidade em usar as ferramentas adquiridas
durante as aulas é algo como o tirocínio (Preparação prática feita sob a vigilância de um professor). Ela é
adquirida junto ao professor, no decorrer do curso e durante os exercícios. Mas
isso é assunto para o artigo do mês que vem. Vamos continuar essa discussão.
Referências
bibliográficas.
FREIRE,
P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários
à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.
LUCKESI,
C. P. Avaliação da aprendizagem:
Componente do ato pedagógico. São Paulo: Cortez, 2011.
PERRENOUD,
P. Ensinando competências desde a escola.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
ZABALA,
A. A prática educativa: como
ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
Omar de Camargo
Técnico Químico
Professor em Química
decamargo.omar@gmail.com
Ivan Claudio Guedes
Geógrafo e Pedagogo
ivanclaudioguedes@gmail.com
Como referenciar esse artigo:
CAMARGO, O.; GUEDES, I.C. Pela construção de uma escola competente que ensina e aprende. Gazeta Valeparaibana [online]. São José dos Campos, 01 jun. 2015. País Educador - Professores. Disponível em http://gazetavaleparaibana.com/091.pdf Acesso em 08 jun. 2015.
P.S. Sobre o ensino por meio de competências, publicamos um vídeo no youtube e deixamos aqui o convite para assistir e opinar. Este site é indicado para quem está estudando para algum concurso em educação.
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