EDUCAÇÃO MEDIADA POR TECNOLOGIA NÃO É NOVIDADE.
Há algum tempo o governo
federal vem investindo na inclusão tecnológica das escolas. O programa “um computador
por aluno” (em 2008) custou aos cofres públicos R$ 82,55 milhões para compra de
150 mil computadores portáteis.
Desde 2011 o governo se
esforça para distribuir tablets aos alunos e aos professores das escolas
públicas. Em de 2012, o MEC anunciou a distribuição de 600 mil tablets aos
professores do ensino médio a um custo de R$ 150 milhões (vale dizer que o
nosso ainda não chegou!).
Hoje, a moda da Educação
a Distância (EAD), aperfeiçoa os conceitos do passado somando-os à tecnologia presente.
Recentemente foi noticiado pela mídia nacional sobre o norte-americano Salmon
Khan, que ao fazer questões para uma prima de 10 anos (que se encontrava na Índia),
acabou fazendo de um curso com explicações online, “um método revolucionário”,
segundo os jornais que formam a opinião pública. Para nós, nenhuma novidade,
pois o Ensino à Distância também é antigo.
Em 1904, o Jornal do
Brasil registrou na primeira edição da seção de classificados, um anúncio em
que era oferecida a profissionalização por correspondência para datilógrafo.
Desde 1941, uma empresa brasileira oferece diversos cursos a distância
ofertando inclusive, o famoso “Supletivo à distância”.
O caso de Khan ganhou
repercussão. Aulas simples, gravadas apenas com voz e captura de vídeo
(utilizando algo parecido com o
Paintbrush) ganharam investimentos da ordem de 100 mil dólares de Bill
Gates para a expansão do seu negócio. Os vídeos são produzidos e
disponibilizados na internet.
No Brasil Khan esteve
reunido com a presidência da república através da intermediação da Fundação
Lemann. O encontro gerou uma parceria entre a Fundação e o MEC para distribuir
as aulas de Kahn em português pelos quase 400 mil tablets que serão entregues
pelo MEC em 2013.
Na nossa humilde
opinião, os vídeos não trazem nenhuma grande novidade, no que diz respeito ao
seu uso em sala de aula.
Os próprios vídeos da
Fundação Roberto Marinho são mais contextualizados e fáceis de
compreender. Os vídeos de Khan
(disponíveis em http://www.fundacaolemann.org.br/khanportugues/) apresentam uma
tela preta com rabiscos, e uma voz ao fundo que explica o conteúdo. Sinceramente,
não entendemos aonde se encontra “a revolução na educação”.
Os vídeos não
apresentam explicações significativas. Não discutem conceitos, não chamam a
atenção. As explicações são
confusas e não são de fácil entendimento. Qualquer professor com o mínimo de habilidade
sobre o uso da informática consegue produzir slides para projetar em tela e
apresentar explicações melhores. Na dúvida, veja os vídeos e tire as suas
conclusões.
O Brasil é um país em
que há déficit na formação de professores (tanto em quantidade quanto em
qualidade). Confabulamos que a
inserção das aulas em EAD para o ensino regular possa trazer uma economia
significativa aos cofres públicos.
Façamos a seguinte
conta. A situação ocorreria em uma escola de Ensino Fundamental II. A escola
possui aproximadamente 600 alunos. Distribuídos em turmas de 40 alunos haveria
15 turmas. Cada turma tem em seu componente curricular 8 disciplinas (Língua
Portuguesa, Inglês, História, Geografia, Matemática, Arte, Ciências e Educação
Física). São trinta horas/aula por semana, são 450 horas/aula para todas essas
turmas, algo entre 15 ou 20 professores para atender toda essa demanda.
Em uma hipótese de se
utilizar a EaD, haveria a possibilidade de juntar as disciplinas em áreas de
estudo (um dos projetos do MEC é realmente esse). Os alunos de posse dos tablets com as aulas
instaladas assistiriam aonde quisessem e na hora em que quisessem.
Na escola (sem a
necessidade de cumprir horário) apenas tirariam as dúvidas (caso houvesse, pois
a bandeira levantada é a de que o aluno pode assistir quantas vezes quiser até
ficar sem dúvida) e apresentar os trabalhos aos professores. Os professores, divididos por área cairiam de
15 ou 20 (segundo a análise acima) para apenas 3 (Linguagens, Matemática e
Ciências e Ciências Humanas). Um professor por área seria o suficiente para
corrigir os trabalhos e lançar as notas no sistema, o professor passaria a ser
um tutor.
Pronto! Resolvemos o
problema da falta de professores no Brasil, falta de espaço nas escolas, o
baixo preparo do professor e as críticas por causa do baixo desempenho dos
alunos acabariam. Milhões seriam economizados com o custo da mão de obra
docente.
É bom deixar claro que
o cenário confabulado acima não é produto da nossa defesa. Mas é o que passamos
a compreender quando juntamos diversas políticas públicas que rodeiam a área da
educação há algum tempo.
Dizer que os vídeos
apresentados merecem milhões em investimentos porque vão salvar a educação, só
nos deixa pensar em duas hipóteses:
1. Os nossos
administradores são muito ingênuos e não tem o mínimo de conhecimento em
educação escolar.
2. Alguém vai ganhar
muito dinheiro com isso.
Para referenciar este artigo:
CAMARGO, O; GUEDES, I. C. Educação mediada por tecnologia não é novidade. Gazeta Valeparaibana [Online] São José dos Campos, 01 fev. 2013. Educação. Disponível em http://gazetavaleparaibana.com/063.pdf Acesso em 23 fev. 2013.
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