SARESP: INDICADOR DE QUALIDADE OU PARANOIA PEDAGÓGICA? Parte II
Em novembro de 2012 escrevemos a primeira parte deste artigo em que abordamos a questão da super valorização do SARESP (Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar de São Paulo), que estava para ser aplicado naquele mês, pelo Governo do Estado de São Paulo (http://www.gazetavaleparaibana.com/060.pdf).
Neste
mês de Março ou meados de Abril (2013) os dados serão divulgados amplamente pelas
mídias apresentando os
resultados auferidos pela avaliação. No entanto, o que se pretende discutir
dessa vez a conotação “meritocrática”
que é conferido ao IDESP (Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo).
O
IDESP é confeccionado a partir da fórmula, IDESP = IDS X IFS, onde a variável:
Índice de Fluxo (IFS) representa a taxas de reprovação e de evasão escolar e o
Índice de Desempenho (IDS) representa a nota do SARESP.
Deixando
de lado as elucubrações matemáticas, sabemos que as avaliações escolares
medidas por índices e regidas
por metas não é novidade no contexto da administração escolar mundial. As
orientações do Banco Mundial
para o Desenvolvimento da Educação (Learning for All: Investing in People’s
Knowledge and Skills to Promote Development, disponível em:
http://www.worldbank.org/education), IMF (http://www.imf.org) e a Carta da
Unesco para a educação no século XXI
(http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/home/), deixam muito claro a conjuntura
mercadológica e administradora
que a educação (em países que cumprem a cartilha do sistema neoliberal, como o
Brasil) devem implementar
em seu sistema educacional. A premissa é bem básica: os bai-xos índices devem
ser difundidos por toda a sociedade para que fique expressa a ineficiência do
Estado com a educação. A solução? Partir para as Parcerias
Público-Privadas e para a privatização do sistema (cf LIBÂNEO; OLIVEIRA; TOSHI,
2012).
A
ideia é desobrigar o Estado dessa função, o que é contraditório com a nossa
Carta Magna. Temos aí um imbróglio, um nó que não se consegue desatar, pois se
de um lado o Estado é obrigado a cumprir o que está
na constituição, por outro lado se vê na contingência de cumprir a cartilha do
neoliberalismo e se não cumprir as “torneiras do dinheiro fácil” se fecham.
O
sistema de meritocracia foi importado desastradamente da cidade de Nova Iorque
(EUA), em que foram estabelecidas
metas para os docentes cumprirem. Implementado entre 2007/2008, em 2011
estudos confirmaram
que não existe relação entre a qualidade do ensino e a bonificação de
professores, e cancelaram este projeto.
No Brasil, a ideia ainda soa como inovadora, e tem ao seu lado vários
economistas apaixonados pelo sistema
neoliberal que creem pia-mente no que está escrito nas cartilhas do Banco
Mundial, da Unesco e do
FMI, e que ecoam a quatro cantos esses escritos. O governo, por sua vez, é
obrigado a ceder, pois não tem força
política, ideológica ou de plano de governo para fazer valer o seu Estado de
Bem Estar Social.
Bem
sabemos que a bonificação faz parte do assistencialismo promovido, assim como
as diversas bolsas auxílio, pelas ideias neoliberais “O estudo em Nova York
aponta que o sistema não mudou as práticas docentes. Uma das conclusões é que
o professor que recebe bônus entende que apenas foi recompensado pelo esforço
que sempre teve - e não que tenha buscado melhorar”. (SIC) – Folha.com
-20/07/2011.
Como
entendemos aqui não é muito diferente, além de que somos controlados por um
pacote matemático não muito acessível aos próprios professores de matemática (
alguém já teve a curiosidade de saber a teoria por detrás dos índices?). Resta
aos professores uma explicação mais simples: - índice de desempenho advém do
Saresp e o índice de fluxo (como explicado resumidamente acima) serve para
penalizar e obrigar as escolas a empurrarem os alunos adiante, aptos ou não a
cursarem a serie seguinte.
Que
culpa têm os professores se os alunos se evadem da escola?
Pedagogos-economistas de plantão, dirigentes de ensino, supervisores,
diretores de escola e coordenadores dirão, na sua maioria, que a escola não
oferece aulas interessantes ou que a escola não é atrativa a esses alunos.
Que
culpa têm os professores quando pais irresponsáveis preferem ver seus filhos
muitas vezes pedindo esmolas
num semáforo do que na escola?
Que
culpa têm, os professores, se muitos precisam sair da escola para partir para o
mercado de trabalho?
Que
culpa têm os professores se a bolsa família é dada a qualquer um desde que não falte
na escola, sem se importar se esse aluno adquiriu algum conhecimento ou
não?
Então
tudo isso não é levado em conta, ou melhor, é colocado na responsabilidade da
escola e dos professores. A
quem o sistema educacional e econômico quer enganar?
Isto
não funciona e deveria acabar ou ser reformulado. Professores não são valorizados e
muitas
vezes nem plano de carreira possuem. A priori, a suposta esperança de ganhar
algumas migalhas a mais
cria um cabresto com um único objetivo para o professor: conseguir o bônus.
Ora, o Saresp não tem nenhum objetivo senão produzir o índice de desempenho
para compor o IDESP. Todos sabem disso, inclusive os alunos. Daí a ser
divulgado pela mídia que serve para dar bônus aos professores foi um passo. E é
assim que a massa leiga e desavisada entende, então que interesse tem o alunato
em produzir uma prova com um bom desempenho? Tirando uns poucos, poderíamos
dizer que ninguém, pois é fato que muito dos alunos, não querem “dar bônus aos
professores”.
Logicamente,
diante disso tudo, só podemos reafirmar o que já havíamos dito: - isso tudo
virou uma paranoia pedagógica,
onde, como asnos, perseguimos uma cenoura na vã esperança de alcançarmos um
resultado que
será, e o é, derrubado pelo índice de fluxo e novamente servirá para ajudar a
denegrir a escola pública.
Referência:
LIBÂNEO,
J.C.; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, M. S.
Educação Escolar. Políticas, Estrutura e
Organização.
10 ed. São Paulo: Cortez,2012.
Clique aqui para ler a continuação sobre essa reflexão.
Clique aqui para ler a continuação sobre essa reflexão.
Omar de Camargo
Técnico Químico
Professor em Química
omacam@gmail.com
Ivan Claudio Guedes
Geógrafo e Pedagogo
Consultor e assessor pedagógico
ivanclaudioguedes@gmail.com
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